sexta-feira, 24 de abril de 2015

Educação Ambiental em Sacramento, MG



Sacramento é uma cidade muito agradável situada na divisa dos estados de Minas Gerais e São Paulo. Está localizada às margens do Rio Grande e em seu território encontram-se vários reservatórios de usinas hidrelétricas, dentre eles o da Usina Hidrelétrica de Jaguara e o da Usina Hidrelétrica de Igarapava.

A Usina de Jaguara começou a ser construída na década de 1960 e o início da operação foi em 1971. Às margens do seu reservatório estão localizados diversos empreendimentos turísticos que atraem muita gente de ambos os estados e de outras regiões. A Usina pertence à CEMIG.

A Usina Hidrelétrica de Igarapava foi construída na década de 1990, sendo que o início da operação se deu em 1999. Pertence a um consórcio formado por grandes empresas. É uma das usinas hidrelétricas do Sudeste de menor reservatório, portanto de menor impacto ambiental, devido à utilização de um sistema de geração de energia que torna viável o aproveitamento de baixas quedas, em termos hidrológicos. Outro aspecto relevante que chama a atenção na UHE – Igarapava é a escada de peixe, um mecanismo de transposição para peixes que favorece a reprodução de várias espécies, e que foi a primeira construída na América Latina, segundo informações da própria Usina.

A importância econômica e ambiental das usinas para o município de Sacramento é significativa. Desde a década de 1970, foram muitos os impactos ambientais, e a fauna ictiológica do Rio Grande, em especial, foi muito afetada nesses 40 anos. Segundo estudos da UHE – Igarapava, a bacia do Rio Grande possui em média 44 espécies de peixes, entre eles: o Piapara, o Cascudo, o Dourado, o Mandi, etc. Hoje, as Usinas têm um compromisso ambiental com a população, com o desenvolvimento econômico da região e com o meio ambiente. Questões como licenciamentos, compensações, educação ambiental, saneamento e monitoramento constante do reservatório e do entorno devem ser ações permanentes.

Sacramento é também uma das mais antigas cidades do Triângulo Mineiro, e aí se localiza o Distrito do Desemboque, um dos mais antigos núcleos de povoamento da colonização do Brasil Central. Além da história e de uma rica biodiversidade, Sacramento também tem parte de seu território no Parque Nacional da Serra da Canastra, o que faz da cidade uma das portas de entrada desta importante área de preservação, com paisagem, flora e fauna representativas do Cerrado brasileiro.

Com cerca de 25 mil habitantes, um setor primário forte, com produção de leite, grãos, reflorestamento, algumas indústrias instaladas, uma imprensa dinâmica, como a revista “Destaque In” e o jornal “O Estado do Triângulo”, Sacramento tem várias escolas e uma boa infraestrutura urbana.

Neste cenário tão complexo e de grande potencial, em termos da sua diversidade cultural, histórica e ambiental, não se pode descuidar da Educação Ambiental. Um processo de constante mudança exige que a sociedade esteja frequentemente repensando suas relações e seu olhar sobre o meio ambiente. A escola e os professores são agentes privilegiados nesse movimento.

A cidade de Sacramento estava no roteiro do Projeto de Educação Ambiental especialmente desenvolvido por nós para a UHE – Igarapava. Foi nesta cidade que estivemos no dia 11 de abril para trabalharmos, Mara e Renato, junto com professores do município, elementos de Educação Ambiental como um processo de mudança, conhecimento e participação para um mundo sustentável.

Durante toda a manhã de sábado, conversamos com os professores do município sobre leitura do mundo, questões ambientais contemporâneas e cuidados com o corpo, sempre na perspectiva da Educação Ambiental. No final da manhã, apresentamos a eles diversas atividades e materiais pedagógicos especialmente desenvolvidos para a realização de aulas mais dinâmicas e significativas no trabalho com a Educação Ambiental.

Ao encerrarmos os trabalhos, ficou a sensação de que podíamos estender os trabalhos tarde afora, tanto por parte dos professores como da nossa. Trabalhar Educação Ambiental é algo fascinante e quando isso é feito de forma envolvente e significativa o potencial de mudar atitudes e o próprio mundo que nos cerca é muito grande. Valeu a pena!



  

 

 





terça-feira, 14 de abril de 2015

Uma noite na Biblioteca



Ivanilda, Mara, Renato, Mário Salvador e funcionários da Biblioteca

No filme “Uma noite no museu” (Night at the Museum, EUA, 2006, dirigido por Shawn Levy), o ator Ben Stiller, no papel de um simplório guarda-noturno, passa uma noite memorável, e ao mesmo tempo assustadora e inusitada, no Museu de História Natural de Nova York. Trata-se de uma comédia de sucesso, cuja história cresce em suspense quando, lá pelas tantas da madrugada, o Museu ganha vida, os personagens históricos renascem, os bichos empalhados fazem uma boa farra e até um dinossauro se movimenta feroz e desajeitado por entre relíquias históricas e peças etnográficas.
O filme não é grande coisa, em termos da arte cinematográfica, mas o enredo é curioso, inventivo e as situações criadas são engraçadas, nos fazem rir.
Cito o filme para contar uma situação semelhante, recorrente em minhas divagações insones: passar uma noite numa biblioteca e poder ver os livros ganharem vida no silêncio e no vazio das salas de leitura sem leitores, observar os volumes deixarem as respectivas estantes e misturarem-se uns aos outros, dialogarem entre si; livros de ficção com obras de referência, livros de poesia tão sensíveis com livros didáticos, tão sem graça. Ver saltarem das páginas os personagens, reviverem os autores, os cenários, as histórias... E eu ali, no meio dessa confusão criativa, podendo conversar com os vivos e com os mortos, com a história e com monstros intergaláticos, visitar lugares próximos e distantes, além dos imaginários, é claro! Já pensou em como seria ter uma conversa com Marco Polo sobre suas viagens ao Oriente? Em como seria discutir a guerra, as caçadas, as touradas e as pescarias com Hemingway? E falar de Macondo com Gabriel Garcia Marquez? Saber do Machado de Assis se Capitu afinal traiu ou não Bentinho? Paro por aqui, pois essa noite seria fecunda e interminável. Perto do que poderia acontecer numa biblioteca, “Uma noite no Museu” é fichinha, brinquedo de criança!
É claro que eu não posso ir para uma palestra e ficar chateando os ouvintes com essas digressões fantasiosas, mas, confesso, quando vou a uma biblioteca gosto de deixar a imaginação fluir, não importa tanto em que direção. E assim fiz, no dia 08 de abril, por sinal Dia Nacional do Sistema Braille, que permitiu a tantos cegos lerem — coisa fantástica! — quando, a convite da Diretora Ivanilda Barbosa, estive na Biblioteca Pública Bernardo Guimarães, de Uberaba, MG, para falar sobre o tema “A Biblioteca Pública e a sociedade do conhecimento”.
Não fiz uma palestra, mas conversei com amigos, com pessoas interessadas em livros, com estudantes e com funcionários da Biblioteca.
Como não sou bibliotecário por formação, mas por paixão e necessidade pessoal, o que fiz foi reunir ideias soltas, sem preconceitos e sem pretensões acadêmicas, para traçar e repartir minha visão sobre o papel das bibliotecas ao longo da história da humanidade. Falei um pouco sobre os vários conceitos de biblioteca, de modo bastante amplo, até as perspectivas que se anunciam quanto ao seu futuro. Conversamos sobre o receio que muitas pessoas têm sobre um possível fim do livro, da forma como Gutemberg nos legou e como o conhecemos hoje, e sobre as infinitas possibilidades que a informatização e a digitalização dos acervos podem trazer às pessoas, à construção de um futuro melhor, sem deixar de lado as antigas e atuais variações, tão necessárias, algumas sendo tão obras de arte que jamais poderão desaparecer.
O que importa é que as bibliotecas têm um papel extraordinário para a formação de mais leitores. Bibliotecas devem continuar a ser guardiãs dos livros, de documentos, de mapas, de gravuras e de periódicos, enfim, do conhecimento, sem desprezar o que vem por aí em termos de novidades tecnológicas, sempre com o cuidado de preparar os funcionários, de manter a diversidade, de garantir que sejam espaços permanentemente abertos, até de madrugada, se preciso for, para permitir as consultas, para permitir a leitura capaz de fazer felizes as pessoas e transformar o mundo em que vivemos num lugar menos triste, mais feliz, mais leitor.
Mais uma vez, agradeço ao convite feito pela Diretora da Biblioteca, professora Ivanilda Barbosa, bem como aos presentes, dentre os quais o escritor Mário Salvador, da ALTM (que publicou artigo no Jornal da Manhã sobre o evento: http://jmonline.com.br/novo/?noticias,22,ARTICULISTAS,108435), e a todos os funcionários da Biblioteca Pública.






domingo, 5 de abril de 2015

Educação Ambiental e Educação Inclusiva




No dia 16 de março fui convidado a proferir palestra no “IX Seminário do Programa Educação Inclusiva: Direito à Diversidade”. O Seminário reuniu professores, dirigentes e pedagogos entre os dias 16 e 20 de março de 2015, em Uberaba (MG).

Em minha fala contei um pouco da história do Centro de Educação Ambiental Sítio da Pedreira e da nossa preocupação, minha e da Mara, em garantir a todas as pessoas plena acessibilidade às dependências e aos programas pedagógicos do CEA. Desde o início das obras e das adaptações que fizemos na estrutura existente na Fazenda Aroeirinha (sede do CEA), direcionamos nossos esforços no sentido de possibilitar a vinda e a realização de atividades por parte de pessoas com as mais diferentes condições físicas e mentais, com deficiências ou não.

Partindo do princípio de que todas as pessoas têm direito à educação, ao lazer e à vivência no ambiente natural, tentamos criar as condições necessárias à visitação de quem quer que fosse ao CEA. Construímos rampas de acesso, banheiros com barras e trilhas fáceis de percorrer em quaisquer circunstâncias, dentre outras adaptações. Encontramos muitos obstáculos, desde dificuldades na compra de materiais no comércio local até projetos de acessibilidade, mas demos um passo em direção ao direito de todos terem acesso e contato com a diversidade natural.

O ponto principal que levei em consideração é o de que a presença das pessoas no meio natural — considerado aqui como áreas verdes, parques, reservas naturais, jardins etc. — é importante para melhorar a saúde, para acelerar o processo de cura, para diminuir o estresse e as situações de desgaste emocional e físico no dia a dia. Desta forma, todas as pessoas têm direito ao contato e às vivências na natureza, seja nos parques e áreas verdes urbanas, seja no meio rural e em áreas protegidas, como nas RPPNs, nos parques nacionais e estaduais e, em especial, nos centros de educação ambiental.

Uma Educação Ambiental voltada para a inclusão, considerada em termos de uma educação integral e integrada, dentro dos princípios da interdisciplinaridade e das múltiplas visões de mundo, é que pode garantir a plena aplicação dos pressupostos da Declaração de Salamanca, cujo trecho a seguir foi reproduzido no folder do Seminário: “(...) cada criança tem características, interesses, capacidades e necessidades de aprendizagem que lhe são próprios. Os sistemas educativos devem ser projetados e os programas ampliados de modo que tenham em vista toda a gama dessas diferentes características e necessidades.”

A preocupação com a educação inclusiva deve existir em todas as instâncias e a Educação Ambiental tem uma responsabilidade essencial no processo porque trabalha conceitos e práticas tais como a valorização da sociobiodiversidade, o respeito às diferenças e a importância das diferentes leituras do mundo. Todas as crianças têm direito às atividades relacionadas à Educação Ambiental, e as oportunidades de inclusão e participação são fundamentais para um aprendizado conjunto.

Deve-se agradecer aos organizadores pela inserção da Educação Ambiental nesta discussão tão importante que aponta na direção de uma educação libertadora, capaz de mudar atitudes e o próprio mundo em que vivemos.