Minhocultura: redução de resíduos orgânicos e educação ambiental
Renato Muniz Barretto de Carvalho
A necessidade de mudarmos nossas atitudes em relação ao meio ambiente exige, cada vez mais, criatividade, conhecimento e praticidade. Se cada um puder fazer sua parte e se existirem mobilização coletiva e políticas públicas adequadas, os ganhos ambientais e sociais serão significativos.
Um dos grandes problemas da atualidade é resolver o que fazer com os resíduos sólidos, também chamados de lixo. Nas empresas, de todos os setores (indústria, comércio, serviços e rural), já existe a obrigação de se dar uma destinação adequada aos resíduos produzidos. Quanto aos resíduos mais complexos, incluindo alguns que nem deveriam ser mais utilizados, além de outros de grande toxidade, já se fala em logística reversa, ou seja, quem produz e vende tem a obrigação de recolher, reutilizar ou reciclar e descartar com nenhum ou com mínimo impacto. É o caso das pilhas, das baterias, das lâmpadas e do e-lixo (lixo eletrônico).
Nas residências, desde que se tomem alguns cuidados básicos com medicamentos, produtos de limpeza e o óleo de cozinha, os resíduos não oferecem grandes dificuldades de descarte. Ocorre que o processo de recolhimento, culturalmente consagrado ao longo da história do Brasil, acostumou uma boa parcela da sociedade a ter seus resíduos recolhidos diária ou semanalmente por caminhões e levados aos aterros, que, no passado, eram conhecidos por “lixões”.
Nas últimas décadas, os aterros ficaram saturados e apresentaram uma gama imensa de problemas sociais e ambientais. Dentre os problemas sociais, destaca-se o fato de ainda existirem pessoas, inclusive crianças, vivendo do lixo, numa cadeia informal e perversa que compreende as empresas recolhedoras, os atravessadores e compradores dos recicláveis, os catadores ou recicladores (a nomenclatura tem variado dependendo das atividades e da região), e os mais miseráveis, que dependem do lixo até para sua alimentação.
Embora resistam em muitos municípios brasileiros, os “lixões” foram proibidos e estão sendo substituídos por aterros sanitários ou aterros controlados. Estes são cercados, recebem uma manta impermeável para impedir que o chorume infiltre e contamine o lençol freático, e devem apresentar estudos de impacto ambiental, estudos de viabilidade e segurança. Entretanto, muitos ocupam áreas nobres, desperdiçam solos agricultáveis e ainda apresentam o risco de alguns danos ao ambiente, sem falar na quantidade de combustível e de horas de serviço necessários nos processos de recolhimento.
Por esses e outros motivos, muitas administrações municipais devem, daqui para frente, implementar, ou reajustar, algum tipo de taxa pelo recolhimento e acondicionamento do lixo. O que se espera no futuro é a completa eliminação dos aterros, quem sabe do próprio “lixo”..
Em inúmeros países já é comum o cidadão se responsabilizar pelos resíduos que gera, resolvendo, através de recipientes instalados em logradouros públicos adaptados aos diferentes tipos de resíduos – vidro, papel, plástico, etc. –, o destino adequado e o encaminhamento à reciclagem.
Resta decidir o que fazer com os resíduos orgânicos. A dificuldade reside no fato de serem rapidamente degradáveis, ocasionarem mau cheiro e atraírem vetores de várias doenças, como moscas, ratos, baratas, etc. Representam cerca de 50% dos resíduos gerados numa residência comum.
Soluções caras e que demandam recursos, como energia elétrica, precisam ser repensadas no momento de decidir o que fazer com os resíduos produzidos. O princípio da simplicidade e o baixo custo devem ser prioritários na tomada de decisões. Cabe ao poder público, em última instância, resolver o problema, dando uma destinação satisfatória aos resíduos, estimular e colocar à disposição da população os meios necessários à resolução do problema. Se a responsabilidade é do poder público, isso não exime o cidadão de também buscar soluções para resolver uma questão que afeta toda a sociedade.
Dentro deste entendimento, uma solução bastante eficaz e simples é a vermicompostagem ou minhocultura. Trata-se de colocar as minhocas para resolverem o problema dos resíduos orgânicos.
O sistema é baseado na criação de minhocas em caixas de diferentes tamanhos, de acordo com as necessidades de cada um, sejam individuais, de um casal ou de grupos maiores. Podem ser usadas em residências ou em escolas, em empresas e em outros ambientes. O processo, bem conduzido, não ocasiona mau cheiro, não produz ruídos, não exige grande esforço físico e nem demanda muito tempo para os serviços de manutenção. Requer cerca de cinco a dez minutos diários de dedicação e a observação de certos cuidados, pois se tratam de seres vivos.
Ainda há muito descaso, preconceito e desconhecimento em relação ao processo. Mas é preciso discutir mais, abrir a mente, repensar nossas práticas e conceitos. A minhocultura pode ser uma boa solução para a questão dos resíduos sólidos orgânicos. Pode ser também uma outra forma de se olhar o ambiente, a vida e nós próprios.
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