terça-feira, 14 de abril de 2015

Uma noite na Biblioteca



Ivanilda, Mara, Renato, Mário Salvador e funcionários da Biblioteca

No filme “Uma noite no museu” (Night at the Museum, EUA, 2006, dirigido por Shawn Levy), o ator Ben Stiller, no papel de um simplório guarda-noturno, passa uma noite memorável, e ao mesmo tempo assustadora e inusitada, no Museu de História Natural de Nova York. Trata-se de uma comédia de sucesso, cuja história cresce em suspense quando, lá pelas tantas da madrugada, o Museu ganha vida, os personagens históricos renascem, os bichos empalhados fazem uma boa farra e até um dinossauro se movimenta feroz e desajeitado por entre relíquias históricas e peças etnográficas.
O filme não é grande coisa, em termos da arte cinematográfica, mas o enredo é curioso, inventivo e as situações criadas são engraçadas, nos fazem rir.
Cito o filme para contar uma situação semelhante, recorrente em minhas divagações insones: passar uma noite numa biblioteca e poder ver os livros ganharem vida no silêncio e no vazio das salas de leitura sem leitores, observar os volumes deixarem as respectivas estantes e misturarem-se uns aos outros, dialogarem entre si; livros de ficção com obras de referência, livros de poesia tão sensíveis com livros didáticos, tão sem graça. Ver saltarem das páginas os personagens, reviverem os autores, os cenários, as histórias... E eu ali, no meio dessa confusão criativa, podendo conversar com os vivos e com os mortos, com a história e com monstros intergaláticos, visitar lugares próximos e distantes, além dos imaginários, é claro! Já pensou em como seria ter uma conversa com Marco Polo sobre suas viagens ao Oriente? Em como seria discutir a guerra, as caçadas, as touradas e as pescarias com Hemingway? E falar de Macondo com Gabriel Garcia Marquez? Saber do Machado de Assis se Capitu afinal traiu ou não Bentinho? Paro por aqui, pois essa noite seria fecunda e interminável. Perto do que poderia acontecer numa biblioteca, “Uma noite no Museu” é fichinha, brinquedo de criança!
É claro que eu não posso ir para uma palestra e ficar chateando os ouvintes com essas digressões fantasiosas, mas, confesso, quando vou a uma biblioteca gosto de deixar a imaginação fluir, não importa tanto em que direção. E assim fiz, no dia 08 de abril, por sinal Dia Nacional do Sistema Braille, que permitiu a tantos cegos lerem — coisa fantástica! — quando, a convite da Diretora Ivanilda Barbosa, estive na Biblioteca Pública Bernardo Guimarães, de Uberaba, MG, para falar sobre o tema “A Biblioteca Pública e a sociedade do conhecimento”.
Não fiz uma palestra, mas conversei com amigos, com pessoas interessadas em livros, com estudantes e com funcionários da Biblioteca.
Como não sou bibliotecário por formação, mas por paixão e necessidade pessoal, o que fiz foi reunir ideias soltas, sem preconceitos e sem pretensões acadêmicas, para traçar e repartir minha visão sobre o papel das bibliotecas ao longo da história da humanidade. Falei um pouco sobre os vários conceitos de biblioteca, de modo bastante amplo, até as perspectivas que se anunciam quanto ao seu futuro. Conversamos sobre o receio que muitas pessoas têm sobre um possível fim do livro, da forma como Gutemberg nos legou e como o conhecemos hoje, e sobre as infinitas possibilidades que a informatização e a digitalização dos acervos podem trazer às pessoas, à construção de um futuro melhor, sem deixar de lado as antigas e atuais variações, tão necessárias, algumas sendo tão obras de arte que jamais poderão desaparecer.
O que importa é que as bibliotecas têm um papel extraordinário para a formação de mais leitores. Bibliotecas devem continuar a ser guardiãs dos livros, de documentos, de mapas, de gravuras e de periódicos, enfim, do conhecimento, sem desprezar o que vem por aí em termos de novidades tecnológicas, sempre com o cuidado de preparar os funcionários, de manter a diversidade, de garantir que sejam espaços permanentemente abertos, até de madrugada, se preciso for, para permitir as consultas, para permitir a leitura capaz de fazer felizes as pessoas e transformar o mundo em que vivemos num lugar menos triste, mais feliz, mais leitor.
Mais uma vez, agradeço ao convite feito pela Diretora da Biblioteca, professora Ivanilda Barbosa, bem como aos presentes, dentre os quais o escritor Mário Salvador, da ALTM (que publicou artigo no Jornal da Manhã sobre o evento: http://jmonline.com.br/novo/?noticias,22,ARTICULISTAS,108435), e a todos os funcionários da Biblioteca Pública.






Nenhum comentário: